segunda-feira, 25 de agosto de 2008

o homem mais importante da minha rua
é o dono da fábrica dos pastéis de nata
passeia-se em nuvens de farinha
e deixa um rasto de açúcares perfumados
a enfeitar as flores de maçapão
nas asas das borboletas

o homem mais importante da minha rua
olha-me como se eu nunca tivesse deixado de ser menino
e oferece-me sonhos
embrulhados em chocolate
que guardo numa caixa das estrelas
para abrir no dia dos meus anos

o homem mais importante da minha rua
passa-me a mão pelos cabelos
e diz que um dia vou ser grande
e que vou ter muitos caramelos de hortelã-pimenta
para oferecer a toda a gente com olhos cor de esperança

o homem mais importante da minha rua
acredita no menino jesus
no pai natal
nos presentes
joga ao pião e ao arco
nas tardes de verão
brinca às escondidas no jardim do coreto
e esconde-se sempre debaixo da cadeira do homem do trombone

antes de ir embora
conta histórias do tempo em que não tinha açúcar
nem farinha
nem ovos para fazer pasteis de nata
mas sem tristeza
sem amargura
só para que os meninos saibam que houve um tempo
em que não havia açúcar nem farinha nem ovos

o homem mais importante da minha rua
é o dono da fábrica de pastéis de nata


(o homem mais importante da minha rua)

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